"Meu vício é você, e não vai passar..."
Como sempre, as obsessões surgem na minha vida seguindo dicas de pessoas conhecidas (estou olhando pra vocês, Adara e Polly!) ou relacionadas com outras obsessões que já eram presentes. Despertar da Primavera foi uma junção das duas coisas, já que a paixão por Glee e, consequentemente, pela Lea Michele me fez conhecer o musical Spring Awakening e, é claro, me apaixonar por ele não foi muito difícil, uma vez que eu sou fanática por musicais desde que me lembro.
Li reportagens e críticas sobre a peça. Vi infinitos vídeos no YouTube. Baixei a trilha sonora e a escutei sem parar. Fiquei encantada com as vozes, com as músicas, com a história que elas contavam. Nada mais natural, então, do que ficar irracionalmente empolgada quando descobri que havia uma versão brasileira da peça sendo encenada no Rio de Janeiro – empolgação foi tão grande que quase culminou em uma viagem épica para a Cidade Maravilhosa. Não aconteceu, mas tudo bem, porque eu acredito que as coisas acontecem em seu tempo certo, então talvez fosse para eu ver Despertar da Primavera pela primeira vez aqui em São Paulo, no lindo teatro Sérgio Cardoso.
(queria ter ido mais vezes do que as três que fui – mas a essa altura da vida eu já entendi que querer não é poder. Faltou tempo, faltou dinheiro, faltaram oportunidades. Posso dizer, com certeza, que pelo menos aproveitei cada segundo de cada uma das apresentações, para prestar atenção em cada detalhe, em cada número, em cada um dos atores)
Despertar da Primavera é mais do que um musical, é mais do que uma história de amor. É uma história verdadeira, que se passa lá em 1891, mas que com algumas poucas mudanças poderia com certeza se passar em 2010, disso eu não tenho dúvidas. Conta a história de um grupo de jovens, na Alemanha do século passado, tendo que lidar com diferentes tipos de conflitos sem a ajuda e compreensão da sociedade, que insiste em reprimir e mentir, em vez de ensinar e ajudar.
São vários personagens diferentes, cada um com uma personalidade marcante, que representa a personalidade de tantos jovens atuais: há o aluno brilhante, porém questionador, que busca por uma justiça que poucos enxergam; há o aluno inteligente, mas inadaptado, que passa por "vagabundo e preguiçoso", simplesmente por não ter motivação para ser mais; há a jovem de boa família, ingênua e criada dentro de uma redoma, que precisa conhecer o lado "obscuro" da vida por si só e sofre as consequências disso; há garotas ingênuas e apaixonadas e garotas não tão ingênuas assim, que perderam sua inocência e sua alegria dentro de suas próprias casas, para seus próprios pais; há o garoto apaixonado pela professora, o garoto apaixonado pelo colega de classe; e, diferente da maioria, há o garoto que tem tanta confiança em si mesmo e no seu papel na sociedade, que prefere esperar que tudo aconteça da forma que quer...
Dentre tantas as minhas obsessões, essa foi uma surpresa. Não por ser uma peça de teatro (porque minha maior obsessão teatral foi outra – e eu provavelmente falarei dela aqui no futuro) ou por não fazer parte das minhas normais obsessões por filmes/seriados. Foi uma surpresa por ter me atingido de duas formas diferentes: como espectadora apaixonada por musicais e, acima de tudo, como educadora.
Preciso ser sincera e dizer que, apesar de ser uma apaixonada pelo gênero, eu não conhecia o trabalho de Moeller e Botelho. O pouco que eu sabia do trabalho deles veio do que ouvi falar (porque tenho um casal de amigos muito queridos – Carol e Pablo – que se acabaram com a Noviça, entre outras peças, então eu sabia que eles eram bons no que faziam e que não decepcionariam). Não sou frequentadora de teatro musical, por motivos que vão desde o financeiro (já que as grandes produções musicais aparecem com ingressos bastante "salgados") até o fato de que meus "companheiros teatrais" não curtem esse gênero, então sempre acabamos indo ver outras coisas, mas Despertar entrou na minha lista de "must see", como eu disse lá no começo, por causa da Lea e de Spring. E eu não acho que escolheria outra peça para me introduzir nesse mundo. Sério mesmo.
Como eu sempre digo para meus amigos "teatrais", eu não sou atriz, não entendo de atuação e quando comento sobre filme/série/peça, faço isso do ponto de vista de uma espectadora. Eu quero ser convencida de que aquele mundo é aquele mundo, de que aquelas pessoas são aquelas pessoas, de que eu não estou assistindo a interpretações, mas sim convivendo com pessoas reais em situações reais. E Despertar da Primavera fez isso comigo. Apesar de eu já conhecer a história de trás para frente e de frente para trás, em todas as três vezes em que estive lá eu me prendi de tal forma no que presenciei, que me assustei, ri e chorei com cada detalhe, como se fosse a primeira vez. Cada revelação feita na peça era uma novidade para mim, de tão envolvida que eu ficava e acho que isso é o mais importante de tudo. Sim, nesse aspecto, a peça mais do que cumpriu seu papel.
No outro aspecto da minha vida, aquela parte "séria" da educadora, Despertar também surpreendeu. Primeiro porque, enquanto eu assistia ao espetáculo, eu não podia deixar de identificar em cada personagem um aluno que já passara pela minha vida de professora. Eu vi ali no palco um grupo de jovens vivendo exatamente a mesma coisa que eu testemunhara alunos tão queridos vivendo nos meus quase 4 anos de profissão. E, além disso, a história é contada por jovens para jovens, de forma dinâmica e divertida, trazendo para o teatro um público que prefere outros tipos de entretenimento nos dias de hoje. Sai do teatro Sérgio Cardoso a primeira vez com apenas uma certeza na mente: precisava convencer pelo menos alguns dos meus alunos a irem assistir ao espetáculo, porque sabia que a peça os alcançaria naquela parte deles que eles guardam apenas para si mesmos...
Não foi fácil, claro, porque há ainda uma certa relutância em ir ao teatro ("coisa de velho!", "programa chato", "credo, por que eu faria isso?" foram algumas das reações que eu obtive dos meus alunos queridos), mas eventualmente eu convenci um grupo, que convenceu um outro grupo, que convenceu um outro grupo... Eu não parei exatamente para contar, mas acredito que uns 20 alunos meus, mais ou menos, tenham ido assistir ao Despertar da Primavera nessa curta temporada em São Paulo. Todos, sem exceção, vieram falar comigo nos dias seguintes, empolgados, com os olhos brilhando, prontos para comentar cada detalhe, cada coisa que tinham gostado, cada cena que tinham entendido. Alunos que eram normalmente fechados vieram até mim com um sorriso no rosto e o coração nas mãos, dizendo que depois da peça tinham se sentido, finalmente, "compreendidos"...
Então é uma coisa interessante, porque Despertar da Primavera atinge os dois lados da minha pessoa: o lado da fangirl louca (que quer ir assistir ao espetáculo várias vezes, que fica o dia todo cantando as músicas, que foi se enfiar no meio de um grupo de desconhecidos na Paulista pra ajudar em um FlashMob...) e o lado sério (da professora, da educadora – que pode parecer até pequeno, mas ele é de muita importância, sério mesmo! =-P)
De forma intensa, dinâmica e real, um grupo de jovens transmite tanta segurança e tanta certeza para o público que os acompanha, que o que eles chamam lá fora de "stage door" – o ficar na porta de saída do teatro, esperando para conversar/pegar autógrafos/tirar fotos – virou rotina, a ponto de alguns dos atores (atenciosos como poucos, eu diria), já conhecerem e tratarem certos fãs pelo nome...
Resumindo? Despertar da Primavera é uma peça única – não dá pra descrever de outra forma. Depois de uma temporada curtíssima aqui na nossa terra, ela ganhou força inesperada e, foi anunciado essa semana, volta para nos alegrar por mais dois meses, em junho e julho!
Quem já viu provavelmente vai querer ver de novo.
Quem não viu, faça o favor, e VEJA!!!
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